O Beijo Proibido que Abalou um Divórcio: O Que Sr. Ademir Fez com Sua Esposa Grávida Vai te Deixar sem Fôlego

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País M.

Na cama de hotel.

Dois corpos juntos.

No calor do momento, a voz sensual de Davi estava levemente rouca, carregada de sedução.

— Sophia, me dá um filho, que tal?

Sophia, tomada pela paixão, respondeu sem pensar.

Depois, enquanto os dois se abraçavam, ela começou a refletir sobre o que ele acabara de dizer.

— Um filho?

O brilho de emoção em seus olhos ainda não havia se dissipado.

O olhar de Davi voltou a se acender; de alguma forma, o corpo dela sempre exalava uma atração irresistível para ele.

Reprimindo os pensamentos que surgiam, ele tirou do nada um anel de diamante e o colocou no dedo anelar da mão esquerda de Sophia.

— Você está me pedindo em casamento?

— Sim.

— Agora você pode me dar um filho? — Davi perguntou com um sorriso, seus olhos cheios de ternura, mas sem amor.

Seu olhar parecia atravessá-la, como se esperasse a resposta de outra pessoa que habitava seu coração.

— Vou te dar vários filhos.

Sophia ficou surpresa e encantada, mas pensou que um pedido de casamento na cama não era exatamente romântico ou formal.

Mas tudo bem, aquele era um momento que ela esperava havia três anos e, no final, valia a pena.

Três anos antes, ela havia se ferido de maneira inexplicável na praia, batido a cabeça nas pedras e, ao acordar, perdido a memória.

Foi Davi quem a salvou.

Quando abriu os olhos pela primeira vez, viu o rosto dele e ficou encantada pela sua beleza.

Ao se recuperar, descobriu que fora Davi quem pagou suas despesas hospitalares.

Também descobriu quem ele era: o presidente do Grupo Vitalidade.

Davi propôs que ela fosse sua amante contratual, e ela aceitou sem hesitar.

Eles assinaram o contrato, formalizando o relacionamento.

Ele deu a ela um nome, “Sophia”.

Sim, ela estava lá por causa do rosto dele.

Embora fossem apenas amantes contratuais, o relacionamento dos dois ao longo desses três anos não era diferente do de um casal de namorados.

No primeiro ano, ela foi amante secreta; no segundo, ele a apresentou a seus amigos do círculo social, dizendo que ela era sua namorada.

Agora, prestes a completar três anos, ele a pedia em casamento.

Depois de se integrar ao círculo social dele, ela ouviu dizer que, na época da faculdade, Davi tinha uma musa que nunca saiu de seus pensamentos, mas que havia desaparecido sem deixar rastros. Ele passou anos procurando por ela, sem nenhuma notícia.

Com o tempo, Davi já havia perdido a esperança de que ela estivesse viva.

E foi por isso que ele decidiu se casar agora.

Sophia não se importava; afinal, quem não tem um passado?

Olhando para o anel de diamante em seu dedo anelar, tudo parecia ter valido a pena.

O som da água ecoava no banheiro, era Davi tomando banho.

Depois de se acalmar, Sophia pegou uma toalha e a enrolou de maneira simples ao redor do corpo.

Ela desceu da cama e começou a juntar as roupas dos dois espalhadas pelo chão.

Um barulho; algo caiu no chão.

Era a carteira de Davi. Ela se abaixou para pegar, e uma foto caiu de dentro. Estava um pouco gasta, com as bordas desgastadas, como se o dono a tivesse manuseado inúmeras vezes.

A mulher na foto se parecia um pouco com ela, mas era mais jovem, como era três anos atrás.

Sophia não se lembrava de ter tirado aquela foto três anos antes, mas, como havia perdido a memória, supôs que devia ter esquecido.

Quando estava fechando a carteira para guardá-la, uma mão grande e elegante apareceu atrás dela e pegou a carteira de volta.

Davi tinha acabado de sair do banheiro; seu cabelo recém-lavado ainda não estava seco e caía na testa, cobrindo levemente os olhos, que expressavam desagrado.

— Não mexa nas minhas coisas. — Sua voz era fria e carregada de advertência, completamente diferente da pessoa carinhosa de minutos atrás na cama.

Ele virou as costas para ela e guardou a carteira em sua pasta, seu corpo exalando um ar de distanciamento e reserva.

Sophia ficou perplexa. Ele estava desconfiado dela por causa de uma foto?

Confusa, olhou para ele, pensando: “Essa não era uma foto minha de anos atrás?”

Antes que pudesse perguntar, Davi pareceu perceber que seu comportamento de agora não fora apropriado.

Ele se virou, segurou o queixo dela, seu olhar ambíguo revelando uma expressão zombeteira, enquanto seus dedos acariciavam os lábios dela, ainda inchados, com um toque de provocação.

A voz dele era fria, desprovida de desejo, mas suas palavras eram extremamente provocativas, claramente tentando mudar de assunto:

— O horário da exposição está quase em cima. Se você não quiser ir, podemos fazer isso de novo.

As bochechas de Sophia coraram intensamente, e ela usou um pouco mais de força para empurrá-lo.

Com os pensamentos desordenados, ela deixou de lado o assunto da foto.

Davi estava em uma viagem de trabalho ao País M e havia recebido um convite para a exposição de Laura, uma artista que exibiria suas obras ali. Ele fez questão de levar Sophia, planejando acompanhá-la à exposição assim que terminasse suas obrigações.

Laura era uma pintora que havia se retirado do cenário artístico três anos antes, e exibições de suas obras eram raríssimas. Aquela exposição no País M era uma ocasião especial.

Sophia rapidamente se arrumou, enquanto Davi já havia trocado de roupa, vestindo um novo terno.

A exposição ficava perto do hotel, e bastava uma curta caminhada.

Os dois andavam de braços dados pela rua, a atmosfera era perfeita, e Sophia se sentia imensamente feliz quando, de repente, Davi parou de andar.

— Davi, o que foi? — Sophia seguiu o olhar dele.

Do outro lado da rua, uma mulher com roupas gastas e sujas, de cor indiscernível, atravessava a avenida sem se importar com o tráfego, correndo em direção a eles.

Ela afastou o braço de Sophia, que estava apoiado no dele, e se agarrou firmemente à cintura de Davi.

Chorava desesperadamente, mal conseguindo respirar entre os soluços:

— Davi, finalmente te encontrei! Você veio me buscar, não veio?

Sophia foi empurrada para o lado, seus olhos momentaneamente ofuscados pelo brilho do sol.

Ela achava aquela mulher estranhamente familiar, parecida com a mulher na foto do porta-cartões, e, ao mesmo tempo, parecida com ela própria.

— Valentina? É você? — A voz de Davi tremia, incrédula, seus olhos fixos na mulher em seus braços, sem ousar piscar, com medo de que ela desaparecesse novamente.

O homem que, há pouco, havia pedido Sophia em casamento agora estava, no meio da rua, diante dela, segurando outra mulher.

E ele secava as lágrimas da mulher com um cuidado extremo, como se ela fosse o tesouro mais precioso do mundo.

— Sim, sou eu. — A mulher soluçava, assentindo com a cabeça.

Ela era magra e frágil, mas segurava Davi com toda a força que possuía.

Um homem que sempre fora obcecado por limpeza, naquele momento, a segurava contra si, tentando acalmá-la com palavras gentis, como se ela fosse um bem precioso que ele acabara de recuperar, com medo de machucá-la com qualquer movimento brusco.

Os dois pareciam estar em um mundo só deles, alheios a tudo ao redor.

E alheios a Sophia.

Davi parecia ter esquecido que Sophia estava ao seu lado, enquanto tirava seu caro paletó e o colocava sobre os ombros da mulher em seus braços. Em seguida, passou os braços sob os joelhos dela e, com a mulher desacordada, a segurou firmemente e começou a caminhar de volta ao hotel.

Sophia ficou parada, como uma espectadora alheia à cena, com o braço ainda dolorido pela pancada.

Na sua cintura, ainda sentia o calor deixado por Davi.

O homem que, momentos atrás, a havia envolvido nos braços, com quem compartilhara uma noite de paixão e que lhe havia pedido em casamento, agora a deixava sozinha na rua, correndo de volta ao hotel com uma mulher que surgira do nada.

Enquanto Davi, sem qualquer traço de elegância ou compostura, carregava a mulher de roupas esfarrapadas e aparência de mendiga, as pessoas ao redor pararam para assistir, comentando.

Sophia quis ir atrás deles, mas, ao dar o primeiro passo, quase tropeçou.

Ela se apoiou em um prédio próximo para recuperar o equilíbrio.

Quando ergueu o rosto, viu seu reflexo na janela, e a maquiagem impecável não disfarçava o desespero estampado em seu rosto.

Sem perceber, lágrimas começaram a rolar, borrando a maquiagem recém-feita.

Sophia olhou para o anel de diamante em seu dedo anelar esquerdo.

Um mau pressentimento se espalhou por seu coração: a mulher que surgiu de repente iria destruir a felicidade pela qual ela esperava há tanto tempo.

Ela não podia ficar ali esperando; precisava saber quem era aquela mulher.

Depois de respirar fundo por um momento, deu um passo em direção ao hotel.

O avião veio do País M de volta ao País H.

Hospital Luz do Atlântico.

Sophia estava na porta do quarto do hospital, os braços cruzados, tentando olhar para dentro através da janela.

Davi, junto de seu amigo Samuel Borges, diretor do Hospital Luz do Atlântico, observava enquanto os médicos examinavam a mulher inquieta na cama.

A mulher era segurada por duas enfermeiras.

No avião, o rosto da mulher já havia sido limpo e ela vestia roupas limpas.

— Valentina? Ela não estava… — Desaparecida há quatro anos, sem deixar rastros?

Samuel estava surpreso. Como ele encontrou Valentina?

Ambas as famílias haviam mobilizado todas as conexões e procurado por quatro anos sem sucesso. Agora, quando haviam desistido de procurar, ela apareceu?

Após o exame, os médicos e as enfermeiras saíram do quarto.

Dentro do quarto, reinava o silêncio.

Depois de um momento, a voz de Davi, parecendo vir de longe, quebrou o silêncio. Ele olhava para a mulher na cama, que dormia profundamente após receber um sedativo.

— Como está a saúde dela?

— Desnutrida, assustada, com algum grau de confusão mental, mas nada grave. Com algum tempo de repouso, ela ficará bem.

Davi permaneceu ao lado da cama, indicando que pretendia passar a noite ali.

Samuel abriu a boca para dizer algo, mas acabou engolindo as palavras e saiu do quarto.

Ao abrir a porta, viu Sophia parada do lado de fora.

Samuel se sentiu desconfortável por causa de seu amigo.

Ajustou os óculos de armação prateada e cumprimentou ela com um sorriso gentil.

— Srta. Sophia.

Sophia assentiu levemente em resposta.

— Dr. Samuel, qual é o nome dela? Qual é a relação dela com Davi? — A pergunta de Sophia foi direta; ela estava ansiosa para saber quem era aquela mulher.

Samuel não sabia como responder. Dizer que Valentina era a deusa no coração de Davi?

Afinal, isso era um assunto do seu amigo, e ele não queria se intrometer.

Enquanto ele ponderava como responder, Davi abriu a porta e viu os dois em frente ao quarto, franzindo a testa, visivelmente aborrecido.

— Eu não disse para você ir para casa primeiro? O que ainda está fazendo aqui? — O tom dele estava carregado de desdém e impaciência, quase tangível.

Sophia, sem medo, o encarou de volta. Ela precisava entender.

— O homem que há 16 horas estava me pedindo em casamento em País M agora está abraçando outra mulher, me ignorando completamente, e ainda quer que eu aceite que você nem vai voltar para casa? Passar a noite fora?

— Pare de criar confusão. Agora, vá embora imediatamente. — A voz dele era fria e autoritária, e o olhar para ela era como se estivesse disciplinando uma subordinada desobediente.

Samuel viu o rosto sombrio de Davi e, com receio de que uma discussão começasse, se apressou em intervir para proteger Sophia. Quando Davi ficava bravo, ela não tiraria nenhum benefício.

— Já está tarde. Vou providenciar um carro para levar a Srta. Sophia para casa. — Samuel tentou mediar.

Sophia recusou a oferta de Samuel.

— Eu estou criando confusão? Sou sua noiva! Você me abandonou na rua em um país estrangeiro e saiu com outra mulher nos braços. Alguma vez você pensou em mim? Se quer que eu vá embora, você vai comigo. A mulher que está no quarto tem médicos e enfermeiras para cuidar dela. Agora, você vem comigo para casa.

Sophia estendeu a mão para puxar o braço de Davi.

Antes que sua mão o tocasse, foi bloqueada.

Era Gabriel, o segurança particular de Davi.

Sophia ficou surpresa, sem acreditar, e sentiu seu coração ser despedaçado em uma dor lancinante.

Ele sempre foi o que mais cuidava dela, o que mais a mimava. Sempre que ela precisava contatá-lo, não importava se ele estava em uma reunião ou em viagem de negócios, ele atendia na hora.

Se ela precisasse dele, ele estava ao lado dela em um instante. Se o celular dela estivesse sem bateria e ele não conseguisse localizá-la, ficava preocupado e a procurava por toda parte.

Agora, com a aparição daquela mulher no quarto, ele nem deixava que ela o tocasse?

— O que isso significa? — A voz de Sophia tremia, o coração batendo tão rápido quanto sua voz, repleta de apreensão.

Davi não disse nada, seus olhos fixos nela, frios e impassíveis, como se estivesse olhando para uma estranha, e não para a noiva com quem acabara de ficar noivo.

O tempo parecia ter parado, ou talvez apenas um segundo tivesse se passado.

— Não seja infantil. — Suas palavras eram geladas e impiedosas.

Infantil?

Ele costumava dizer que gostava da dependência dela, da forma como ela o monopolizava, e agora a acusava de ser infantil?

— Você quer ficar no hospital com ela, tudo bem, mas e o nosso casamento? Você acabou de me pedir em casamento hoje! — O coração de Sophia doía como se estivesse sendo apertado.

Ela sabia que aquele não era o momento certo para falar sobre isso, mas não conseguia aceitar que seu futuro marido estivesse passando a noite com outra mulher no hospital.

Samuel, que ouvia a conversa, ficou chocado.

“Casamento? Davi pediu Sophia em casamento? E Valentina no quarto?”

Davi olhou preocupado pela pequena janela para dentro do quarto, temendo que a mulher adormecida acordasse ao ouvir o tumulto.

Sophia percebeu claramente aquele olhar de preocupação que antes só aparecia quando ela se machucava, mas agora era direcionado a outra mulher.

Então, ele se virou novamente, com a voz ainda fria:

— Se não quiser se casar, cancelamos. Este não é lugar para suas birras. Gabriel, leve ela para casa.

Ele não gostava de ser pressionado, especialmente sobre casamento.

Depois de dizer isso, entrou no quarto, sem olhar para Sophia mais uma vez.

Gabriel fez uma leve reverência e, com um tom respeitoso e educado, disse:

— Srta. Sophia, por favor, não me coloque em uma posição difícil. É melhor a senhora voltar agora.

Samuel, observando a expressão desolada de Sophia, tentou aconselhá-la:

— Srta. Sophia, já está muito tarde. Converse com Davi em outro momento.

“Depois de uma cena dessas, ainda haverá conversa?”

Seu noivo, para ficar com outra mulher, ignorava completamente o respeito pela noiva diante de todos.

A luz do corredor do hospital parecia ofuscante, tão brilhante que tudo à sua frente ficou branco, impossível de enxergar com clareza.

Sophia sabia que permanecer ali a tornaria uma piada aos olhos dos outros. Ela não queria ser vista como um motivo de chacota.

Apertou a bolsa nas mãos, se virou e começou a sair.

Ao dar o primeiro passo, seu corpo vacilou, quase desmaiando.

Samuel e Gabriel avançaram rapidamente, segurando seus braços de ambos os lados, gentis e educados.

— Vou acompanhá-la até o carro. — Disse Samuel.

Sophia apoiou a mão na parede para se estabilizar e, recuperando o fôlego, recusou a ajuda:

— Estou bem, posso ir sozinha.

Seu corpo se afastou cambaleante, mas ela continuou andando pelo corredor, firme, até desaparecer da visão deles.

Davi, de volta ao quarto, olhou para Valentina, magra e pálida, deitada na cama, e sentiu um aperto no peito. O cheiro de álcool e desinfetante no ar só aumentava sua irritação.

Ele puxou a gola da camisa, desabotoando os dois primeiros botões, mas ainda assim sentia que o ar estava sufocante, dificultando a respiração.

Abriu a porta do quarto novamente; do lado de fora, apenas Samuel e Gabriel estavam presentes, sem sinal de Sophia.

— Ela foi embora? — Davi perguntou, se sentindo estranhamente aliviado com a ausência dela.

Valentina não seria perturbada enquanto dormia.

— Sim, ela foi. — Respondeu Samuel, com as mãos enfiadas nos bolsos do jaleco branco, acenando com a cabeça.

Davi, vendo que os dois estavam ali, não perguntou como Sophia havia ido embora.

— Vou sair para fumar um cigarro. — Disse ele.

Canteiro de flores no jardim dos fundos do hospital.

A noite de primavera ainda estava ligeiramente fria, e o vento gelado fazia as pessoas sentirem o desconforto do clima.

O som de um isqueiro acendendo ecoou, dois pontos de luz surgiram, e a fumaça do cigarro se espalhou com o vento, confundindo a visão de quem observava.

— Valentina voltou. O que você pretende fazer? — A pergunta veio de Samuel.

Ele não mencionou Sophia, mas ambos sabiam exatamente sobre que estavam falando.

Uma era a deusa dos tempos da faculdade, a deusa que havia salvado a vida de Davi, uma lembrança juvenil que sempre aquecia seu coração.

A outra era a namorada que estivera ao seu lado por três anos, com quem ele compartilhara os momentos mais íntimos e a quem já havia pedido em casamento: sua noiva.

Após um longo silêncio, Davi respondeu.

— Ela é apenas uma substituta. A presença dela é para ocupar o lugar de Valentina, mas compará-la com Valentina? Impossível. — A voz de Davi era fria e impiedosa, e o desdém em seu olhar escuro era evidente, como se não fosse ele quem havia proposto casamento a Sophia em outro país. — O lugar de Sra. Santos não é dela e nunca será. Esse lugar pertence apenas a Valentina.

Afinal, foi ela quem tomou a iniciativa de mencionar o assunto no corredor do hospital, o poupando de ter que tocar no assunto.

Samuel e Davi eram amigos de infância, ambos compartilhavam o mesmo temperamento aristocrático e egoísta típico de famílias ricas, mas desta vez Samuel não pôde deixar de sentir pena de Sophia.

Apesar de Sophia ter perdido a memória, não ter família e ser órfã, ela era uma pessoa pura e honesta. Nos três anos ao lado de Davi, os dois pareciam felizes, e seus temperamentos se completavam bem.

Valentina, por outro lado, havia passado anos no exterior, e não era difícil imaginar as experiências pelas quais poderia ter passado. Não que Samuel tivesse qualquer preconceito quanto à pureza ou ao passado de uma mulher, mas desde a faculdade ele sempre achou Valentina uma pessoa um tanto fingida. Mesmo enquanto estavam fora do país, ela frequentemente desobedecia Davi, saindo sozinha e o deixando para trás.

Após a formatura, um grupo de ex-colegas que se davam bem sugeriu fazer o baile de formatura no exterior. Foi nessa festa que Valentina desapareceu misteriosamente.

Eles usaram todos os contatos para procurá-la, mas não a encontraram. Até a polícia recomendou que desistissem, pois a possibilidade de uma jovem desaparecida em outro país estar morta era muito alta.

Naquela época, eles ainda não haviam assumido totalmente o controle da empresa, e suas habilidades para lidar com problemas não eram maduras. Simultaneamente, o pai de Davi, Bernardo, sofreu um acidente de carro e faleceu.

Após cuidar dos preparativos do funeral, Davi teve que lidar com a herança da empresa e se proteger das manobras de seu tio Heitor, que tentava tomar o controle.

Foi com a ajuda do Sr. Lorenzo que Davi conseguiu estabilizar o grupo. Quando finalmente teve tempo para procurar Valentina, a janela de resgate já havia passado, e encontrar vestígios dela se tornou ainda mais difícil.

Samuel testemunhou a angústia e a culpa de Davi naquela época.

E, mais tarde, Sophia apareceu, trazendo alívio a Davi.

Samuel era grato a ela por isso.

— Sophia esteve com você por três anos. Ela é órfã, sem família. Não acha que está sendo cruel demais com ela? — Samuel tentou argumentar em favor de Sophia.

— Então que continue ao meu lado. Mas casar? Isso é impossível. — Davi respondeu com um tom despreocupado, como se manter uma mulher ao seu lado não fosse nada demais.

Duas mulheres e ele não via problema algum nisso.

— Continuar ao lado dela? Quer dizer que ela vai continuar como sua amante, uma substituta, escondida na sombra? Uma amante de verdade?

Sophia não havia saído diretamente do hospital; ela se sentou em um banco atrás do canteiro de flores, deixando o vento frio soprar sobre ela por um momento.

Ela nunca imaginou que descobriria a verdade dessa forma.

Então era por causa de sua aparência, que se assemelhava em nove décimos à da deusa de Davi, que havia desaparecido.

E como ela havia perdido a memória, era fácil para ele moldá-la de acordo com o ideal de sua amada, ocultando a verdade e fazendo dela uma substituta.

Simplesmente para aliviar sua saudade de Valentina.

Todo o carinho e mimos de antes? Era apenas porque ele via nela o rosto da deusa perdida.

Valentina.

Então, o nome dela era Valentina.

Davi sempre soube sobre Valentina.

Foi por isso que ele escolheu para ela o nome de Sophia.

Até mesmo nos momentos de paixão na cama, ele a chamava de Sophia.

Quando ele chamava por Sophia, sua voz era grave e sedutora, cheia de emoção e encanto, fazendo com que ela se afundasse aos poucos em um abismo.

Afinal, ele apenas estava olhando para o rosto dela e chamando o nome de outra mulher.

Pensando agora, aquela foto na carteira dele era de Valentina, e ela, estúpida, acreditava que a mulher na foto era ela mesma.

Que tolice.

Do começo ao fim, Davi a moldou para se tornar outra pessoa, a deusa que ele carregava em seu coração.

Ela, ingenuamente, pensava que havia conseguido conquistá-lo, que ele a amava.

No fim, ela era apenas uma peça na história de amor dele.

O coração de Sophia, naquele momento, despencou de um pico elevado para um profundo abismo. Ela se via sendo enganada, usada como uma substituta da deusa de Davi.

De noiva assumida e respeitada, agora ela era apenas uma amante nas sombras.

Ela gostava muito, talvez até amasse Davi, mas seu orgulho não permitia que continuasse a ser a substituta de outra pessoa, nem a amante escondida de alguém.

Em seu coração, tomou a decisão de partir.

Ainda bem que Davi apenas a pediu em casamento, pois terminar um noivado seria bem mais fácil do que um divórcio.

De certa forma, ela se sentia aliviada pela aparição de Valentina naquela noite.

— Srta. Sophia, onde está você? — O motorista a chamava em voz alta. Depois de esperar por muito tempo sem vê-la, ele desceu do carro para procurá-la.

— Aqui estou. — Sophia saiu de seu estado de tristeza, voltando à sua expressão habitual, tranquila e serena.

— Está sozinha? E o Sr. Davi? — Perguntou o motorista.

— Ele não volta.

Sophia se levantou do banco atrás do canteiro e seguiu com o motorista em direção ao carro.

Ela usava um vestido longo de tom creme, de estilo doce e inocente. Era pintora e sempre gostara de experimentar diferentes estilos, mas nos últimos três anos, se vestira assim porque Davi dissera que gostava.

A brisa da noite de primavera soprava suavemente, e suas pernas descobertas sentiam o frio leve do vento.

Do outro lado do canteiro, o cigarro de Davi acendia e apagava. Ele deu a última tragada, apagou o cigarro e o jogou na lixeira.

Samuel estava um pouco constrangido ao perceber que Sophia havia escutado a conversa.

— Sophia não foi embora?

Então ela deve ter ouvido tudo o que acabaram de dizer.

O gesto de Davi ao jogar o cigarro foi despreocupado, assim como seu tom de voz frio e indiferente.

— Melhor assim, que ela entenda bem o seu lugar, e não volte a fazer algo tão humilhante como hoje. — Terminando a frase, ele se virou e deixou o canteiro, sem a menor vergonha ou constrangimento por saber que Sophia o escutara.

Sophia voltou para o condomínio Esplendor do Sol de carro.

Lívia abriu a porta para ela, os olhos transbordando saudade depois de alguns dias sem vê-la.

— De volta! Deve ter sido cansativo acompanhar o Sr. Davi nesta viagem.

Com expressão cansada, Sophia apenas assentiu e respondeu vagamente.

— O Sr. Davi não voltou com você? — Lívia olhou por cima do ombro de Sophia, procurando por Davi.

— Ele não vem hoje. — A voz de Sophia era fria, como se realmente não importasse se ele voltasse ou não.

Lívia pareceu um pouco decepcionada, mas logo recuperou o sorriso, um sorriso que trazia um leve tom de malícia que só alguém com experiência poderia entender.

Ela pegou a mala de Sophia e a incentivou a ir descansar no quarto.

Quando Sophia entrou no quarto, finalmente entendeu o motivo do sorriso de Lívia.

A luz estava apagada, mas o quarto estava cheio de velas em diferentes alturas ao redor da cama e nas mesas, cercadas por flores e um leve aroma de incenso. Sobre a mesa, havia uma garrafa de champanhe aberta.

Até as cortinas cinzas usuais haviam sido trocadas por cortinas de renda branca, dando ao quarto uma atmosfera romântica.

A cama de casal estava coberta de pétalas de flores.

Todo o ambiente transbordava uma sensação de carinho e paixão.

Era provável que Davi tivesse pedido para preparar tudo antes de viajar.

Exausta física e emocionalmente, Sophia não tinha energia para arrumar nada. No meio da noite, também não queria incomodar Lívia.

Procurou o controle remoto para acender as luzes, Sophia ligou a iluminação e, em seguida, buscou algo à mão para apagar, uma a uma, as velas.

Achou o pijama no guarda-roupa e foi tomar banho.

Ao entrar no banheiro, notou, sem querer, que ainda usava o anel na mão esquerda. O tirou e o jogou em um canto do armário de acessórios.

Quando saiu do banheiro, sacudiu todas as pétalas que estavam na cama para o chão, se cobriu com o edredom e dormiu.

Como de costume, se deitou no lado esquerdo da cama, onde Davi sempre a abraçava de perto. Aos poucos, ele se movia para o lado esquerdo com ela, deixando um grande espaço vazio na cama. Olhando para o lado direito, viu aquele espaço vazio que a incomodava; então, moveu seu corpo para o meio da cama e jogou o travesseiro extra no chão. Assim, se sentiu mais confortável.

Apagou a luz e foi dormir.

Por dois dias seguidos, não recebeu nenhuma mensagem de Davi. Ele provavelmente estava no hospital com Valentina, ou talvez estivesse trabalhando.

Sophia também não se importou e não enviou nenhuma mensagem para ele, deixando a comunicação totalmente interrompida.

A manhã estava ensolarada, com uma brisa suave de primavera. Sophia descansava tranquilamente na cadeira de balanço no pátio da mansão, com uma máscara facial no rosto.

Enquanto relaxava, pensava em várias coisas. Nos últimos dias, encontrou o contrato de relacionamento assinado três anos atrás, que dizia que o acordo terminaria automaticamente ao final de três anos.

Faltavam menos de quatro meses para o fim do prazo, e, ao término, ela receberia um valor de cem milhões.

Além disso, com o dinheiro de bolso e os presentes de datas comemorativas que Davi havia dado ao longo dos anos, ela havia acumulado cerca de trinta milhões. Como quase não teve oportunidade de gastar, conseguiu guardar tudo.

Pelo visto, podia se considerar uma pequena rica. Depois de partir, poderia encontrar um trabalho e viver bem, sem grandes dificuldades.

Quanto à moradia, bastaria comprar um lugar de tamanho razoável e chamar Letícia para morar junto. Assim, teriam companhia uma para a outra.

A única pena era não poder levar Lívia. Se pudesse levá-la, seria perfeito.

O celular em cima da mesa tocou, interrompendo seus pensamentos. Ela pegou o aparelho, o desbloqueou com a digital e viu uma nova mensagem na tela. Sophia abriu.

Era uma mensagem de sua amiga Letícia.

As duas se conheceram um ano atrás, enquanto faziam compras no shopping. Depois de se verem uma vez, Letícia insistiu que queria ser amiga dela.

Sophia, sem muitas lembranças e sem amigos próximos, acabou aceitando. Como as duas se davam bem, gradualmente se tornaram confidentes.

[Como foi a diversão com o cara lá no País M? Quando vai voltar?]

A mensagem acompanhava um sticker com uma expressão de riso malicioso.

[Já voltei.]

[Já voltou? Tão rápido?]

[O Davi parece bem fortão… Como é que foi rápido assim? Não é lá essas coisas, né!]

[Que nada, não tem força, nem disposição.]

Sophia aproveitou para amaldiçoar Davi.

Do outro lado da tela, Letícia levantou as sobrancelhas, pensando que Davi claramente havia irritado seu “docinho”.

Ela não deu muita importância. Os dois já haviam brigado antes; casais são assim mesmo, brigam e depois se reconciliam.

[Que bom que voltou. Daqui a pouco estou indo ao Portal da Moda para dar uma renovada no guarda-roupa. Depois das compras, podemos comer um churrasco. Vamos juntas?]

[Claro, nos encontramos direto no shopping.]

Sophia aceitou sem hesitar. Nos últimos dias, havia separado e eliminado todas as roupas de estilo juvenil e fofo que não gostava mais. Com o guarda-roupa vazio, estava na hora de repor.

Largou o celular e lavou a máscara do rosto.

Olhou para o guarda-roupa, onde restavam poucas roupas, escolheu um conjunto esportivo casual, fez uma maquiagem leve e simples e se preparou para sair.

— Lívia, combinei de sair para fazer compras com uma amiga. Vou almoçar fora.

Sophia pegou a bolsa e se preparou para sair.

— Srta. Sophia, vai jantar em casa hoje à noite? — Lívia, que estava coordenando os empregados na limpeza, veio perguntar ao ouvir a voz dela.

Sophia, enquanto se abaixava para trocar de sapatos, se lembrou do jeito imprevisível de Letícia. Fazia um tempo que não se viam, então talvez realmente não voltasse para o jantar.

— Não sei. Vou te mandar uma mensagem se eu for voltar.

— Certo.

Quando abriu a porta, o assistente de Davi, Bryan, estava prestes a bater.

— Assistente Bryan. — Cumprimentou Sophia com indiferença, tentando passar por ele para sair.

— Srta. Sophia, o presidente vai viajar a trabalho hoje, com o voo marcado para o meio-dia. Poderia fazer o favor de organizar a bagagem dele antes de sair? — O assistente Bryan mantinha sua postura respeitosa de sempre.

Sophia ficou parada e não se mexeu.

— Lívia, o Davi vai viajar. O ajude a arrumar a bagagem.

— Srta. Sophia, mas…? — Bryan parecia confuso.

— O que foi? Antes de mim, por acaso, o Davi não tinha ninguém para arrumar as malas dele? — Ela respondeu com frieza, sem expressão.

— Nada, Srta. Sophia. Tem razão. — Bryan respondeu com um toque de nervosismo, enxugando o suor da testa, sem ousar desagradar nenhum dos lados.

Normalmente, era ela quem organizava a mala de Davi para suas viagens a trabalho. Depois de tantas vezes fazendo isso, ela já sabia exatamente que roupas ele precisaria para cada ocasião.

Mas agora, ela não queria mais arrumar nada para ele. Ser enganada, sendo apenas uma substituta… Sempre que ele a via preparando sua bagagem, provavelmente achava graça e a considerava ingênua.

Três anos. Pensando bem agora, havia muitos sinais estranhos no comportamento e no olhar de Davi. Ela nunca sequer suspeitou. Era realmente uma idiota.

Daqui em frente, ela não seria mais tão estúpida.

Sophia queria sair imediatamente, mas o assistente Bryan estava bloqueando a passagem. Sem alternativa, ela pediu a Lívia que fosse rápida.

Lívia arrumou a mala rapidamente e a entregou a Bryan, que esperava na sala de estar.

— Assistente Bryan, está tudo pronto.

Ao ver a mala diante de si, Bryan checou o relógio. Tinham-se passado apenas dez minutos. Foi rápido demais.

— Lívia, está tudo arrumado? Quer conferir para ver se não esqueceu nada? — Bryan perguntou com cautela.

Sophia, sem expressão, respondeu antes que Lívia pudesse falar.

— O voo é ao meio-dia, não é? Se ficar enrolando, vai acabar se atrasando. E se faltar alguma coisa, ele pode comprar lá, não é?

Ela olhou para o relógio, um pouco impaciente.

Se ficasse enrolando mais, Letícia acabaria ficando impaciente também. E aí, chegariam no shopping direto para almoçar, sem tempo para fazer compras primeiro. Depois de almoçar, com o estômago cheio, seria menos confortável experimentar roupas.

— A Srta. Sophia está certa. Vou direto para o escritório buscar o presidente. — Bryan se despediu com um sorriso.

Sophia assentiu e seguiu na direção oposta até o estacionamento subterrâneo, onde escolheu um discreto BMW branco e saiu dirigindo.

O assistente Bryan carregou a mala até o lado de um discreto Maybach preto, estacionado à beira da estrada. Colocou a bagagem no porta-malas e depois entrou no banco do passageiro.

O motorista era Gabriel, o segurança particular.

O carro partiu, mas em vez de ir para o aeroporto, seguiu em direção ao Hospital Luz do Atlântico.

— Quanto tempo falta para o contrato de Sophia terminar? — A voz de Davi estava calma, sem qualquer emoção, como se estivesse tratando de um contrato comum da empresa.

O assistente Bryan entendeu que o presidente estava falando com ele e, após lembrar a data de assinatura, respondeu:

— Faltam menos de quatro meses.

— Prepare um novo acordo e envie para ela quando o prazo acabar. — Sophia esteve com ele por três anos. Gastar um pouco de dinheiro para sustentá-la não seria problema, mas ele não pretendia mais tocá-la, nem voltar a frequentar o Esplendor do Sol.

Ao se lembrar da cena que presenciara no corredor do hospital dias atrás, Davi acrescentou sem pensar duas vezes:

— Inclua uma cláusula no acordo dizendo que ela nunca deve aparecer na frente de Valentina.

O assistente Bryan ficou surpreso por um momento, mas, seguindo seu instinto profissional, se recuperou rapidamente e assentiu:

— Certo.

Dizem que os magnatas são frios e indiferentes nos relacionamentos, trocando de mulher como trocam de roupa. Mas, nos últimos três anos, o presidente teve apenas a Srta. Sophia ao seu lado. Todos pensavam que ele fosse fiel, mas bastou ele decidir mudar para que isso acontecesse. Ninguém sabe quanto tempo a Srta. Valentina vai durar ao lado do presidente.

Bryan entrou na empresa três anos atrás, quando Davi assumiu o Grupo Vitalidade, então ele não conhece o histórico amoroso de Valentina e Davi.

Dentro do Portal da Moda.

Sophia estava escolhendo roupas, e nenhuma delas era do estilo fofo e inocente.

— Sophia, você mudou de estilo? — Letícia perguntou ao vê-la segurando um longo vestido preto sensual, com uma fenda na saia, que certamente ficaria provocante no corpo curvilíneo de Sophia.

Sophia se olhou no espelho, testando o vestido contra o próprio corpo, e respondeu calmamente:

— Sim, mudei de estilo. O que você acha, ficaria melhor com um xale ou uma jaqueta por cima?

Ela se virou para Letícia, que deu uma olhada e respondeu:

— Com certeza com o xale, realça ainda mais as suas curvas.

— Também achei.

— Esse vestido é tão sexy. Seu homem vai deixar você sair com ele? — Letícia perguntou, olhando para ela, que estava vestida com roupas esportivas bem simples. — O Davi não prefere você com aquele estilo mais recatado?

Ao pensar nisso, Letícia não conseguiu evitar críticar mentalmente. Que gosto estranho o Davi tem — sendo presidente de um grupo internacional, uma das figuras mais poderosas da economia do País H, mas ainda tem essa preferência por um estilo colegial.

— Agora, o gosto dele já não importa mais, não é algo com que eu me preocupe. — Sophia respondeu com indiferença, sem o menor interesse.

Ela entregou o vestido para uma funcionária de tamanho semelhante ao dela para que o experimentasse em seu lugar.

Em lojas de luxo, há sempre funcionários especializados para experimentar as roupas para os clientes, então Sophia não precisava provar as peças pessoalmente.

Ela pegou mais algumas roupas de estilos diferentes e as entregou para a funcionária experimentar no provador. As peças de que gostasse, ficariam com ela.

Sophia usou seu próprio cartão para pagar e preencheu o endereço completo da Esplendor do Sol, para que as roupas fossem entregues diretamente lá.

As duas só foram almoçar depois de terminarem as compras.

Sem outras pessoas por perto, Sophia finalmente contou a Letícia que era apenas a amante substituta de Davi, e agora que a “deusa” dele tinha voltado, ela pretendia deixá-lo.

— Que cafajeste! — Letícia exclamou, exaltada.

— Fala mais baixo. — Sophia tapou a boca de Letícia com a mão e olhou ao redor para ver se as pessoas nas outras mesas estavam prestando atenção nelas.

Letícia controlou o volume, mas ainda estava indignada:

— O Davi parece todo certinho, mas é um frouxo. A primeira namorada some e ele arranja uma substituta? Por que ele não faz uma cirurgia plástica para ficar igual a essa “deusa” dele? Assim, ele poderia se olhar no espelho todo dia. Você está certíssima em sair fora. Dizer “terminar” é elogio, você deveria era dar um pé na bunda desse cafajeste.

Cafajeste, não dá para entender onde Letícia tinha aprendido esse termo.

Nesse momento, o garçom trouxe os ingredientes crus e os temperos para a mesa.

Sophia dispensou a ajuda do garçom, preferindo grelhar a carne ela mesma, fazia parte da diversão.

— Ainda faltam quatro meses para o contrato acabar. Eu estou pensando em comprar uma casa.

— Pra quê comprar? Fica lá na minha casa, sempre cabe mais uma pessoa.

— Meus dados cadastrais estão todos com o Davi. Já que decidi sair, quero cortar completamente os laços. Preciso de uma casa para transferir os registros para lá. — Sophia explicou seu plano, com o coração já anestesiado, sem a dor que sentira naquela noite no canteiro do hospital ao descobrir a verdade. — Depois a gente mora juntas.

Letícia pensou consigo mesma: “Ela poderia muito bem colocar os registros lá em casa, não faz diferença. Mas, como Sophia está sem memória, talvez isso a assuste.”

Ela concordou com um aceno:

— Claro, eu me mudo para lá com você. Vou ajudar você a procurar uma casa por agora. O lugar que estou alugando é ótimo, tem uma localização e ambiente bons. Vou perguntar ao proprietário se ele vende. Pena que é um imóvel de segunda mão.

— Não importa se é um imóvel de segunda mão. Contanto que seja limpo e prático, basta arrumar e já dá pra morar. — Ela não exigia muito; agora que havia deixado o ambiente protegido, precisava contar consigo mesma para tudo, e estava gostando dessa sensação.

Depois do almoço, Sophia e Letícia compraram alguns acessórios para combinar com as roupas, itens mais leves, que decidiram levar elas mesmas.

Se despedindo de Letícia, Sophia dirigiu de volta para o Esplendor do Sol.

As roupas que comprara pela manhã já haviam sido entregues. As empregadas tinham passado tudo e pendurado no closet.

Sophia não comprou muita coisa, apenas o suficiente para esses dias, para evitar acumular e ter problemas na mudança, já que teria que cuidar de tudo sozinha.

O closet feminino, espaçoso e vazio, agora tinha algumas poucas peças, mas todas do gosto de Sophia.

Ela pegou um conjunto de roupas confortáveis novas para usar em casa, planejando tomar um banho. Ao se mover, seu olhar passou rapidamente pelo closet masculino ao lado, que estava repleto.

Sem parar, ela seguiu em frente.

No sofá, o celular começou a tocar. Sophia largou as roupas e atendeu.

— Alô, é a Srta. Sophia? Sou uma enfermeira do Hospital Luz do Atlântico. Seu relatório de exames está pronto. Quando tiver um tempo, poderia vir buscá-lo?

Sophia se lembrou que, pouco antes de viajar para o País M, Davi a levara para fazer um check-up. Se não fosse essa ligação, ela já teria esquecido do exame.

— Amanhã de manhã eu passo aí.

— Certo, desejo a ela um ótimo dia.

No dia seguinte, no Hospital Luz do Atlântico.

— Preparação para a gravidez?

— Sim. O Sr. Davi deixou instruções específicas no check-up. A saúde da Srta. Sophia está excelente, e seu período de ovulação é bem regular. Recomendo suplementar com ácido fólico, vitamina B1, e ingerir alimentos ricos em proteínas. Mantendo a frequência e qualidade das relações, logo teremos boas notícias.

O médico ajustou os óculos sobre o nariz e sorriu de forma amigável.

Os dedos finos e pálidos de Sophia apertaram o relatório de exames com força, sentindo um peso doloroso no peito.

Ela vinha se esforçando para não pensar em Davi, mas não esperava levar esse golpe bem ao buscar o exame.

— Srta. Sophia, vou receitar duas caixas de ácido fólico e vitamina B1. Se lembre de tomar.

Sophia interrompeu o médico, dando uma desculpa para recusar:

— Obrigada, doutor, mas não precisa. Eu mesma compro lá fora.

O médico não se surpreendeu; afinal, mulheres ricas como ela têm acesso a medicamentos de marcas de renome mundial, então não é incomum rejeitarem os suplementos comuns do hospital.

Perdida em seus pensamentos, Sophia deixou o prédio do hospital e só parou ao alcançar um lugar ensolarado, onde pareceu voltar a si.

Ela jogou o relatório de exames na lixeira.

Com Valentina de volta, Davi não a usaria para ter um filho e, de qualquer forma, ela também não queria ter um filho dele.

Era melhor fingir que não sabia o verdadeiro propósito daquele exame.

No jardim do hospital, o sol da primavera estava agradável, não forte demais. Davi empurrava a cadeira de rodas de Valentina para que ela tomasse sol.

— Davi, você trabalha tanto, não precisa vir ao hospital sempre para me acompanhar. Eu consigo ficar sozinha. — A voz de Valentina era suave e carinhosa.

— Se concentre em cuidar da sua saúde. Não se preocupe com mais nada.

Davi se sentia profundamente culpado por Valentina, acreditando que sua negligência no passado havia levado ao seu sequestro e desaparecimento.

Nos últimos dias, ele tentou sondá-la para entender melhor como havia ocorrido o desaparecimento, mas Valentina começava a chorar ao falar disso, e ele não conseguia obter nenhuma pista.

Sophia jamais imaginou que veria Davi no hospital. Não tinha sido o assistente Bryan quem dissera que ele estava viajando a negócios?

Já estavam nesse ponto, e ainda assim ele inventava desculpas para enganá-la. Sua atitude era realmente infantil.